O título do artigo foi tomado emprestado do livro homônimo de Noam Chomsky, escrito em 1986 e ampliado em 1990, 1991, 2001 e 2002. O prefácio e o capítulo 3 foram escritos em 1986, mas caem como uma luva aos dias de hoje. Por hoje entenda-se o interregno do dia 17 a 22 de março de 2011, quando o presidente americano desembarcava no Chile e seus caças bombardeavam a Líbia, governada(?) por Muammar Gaddafi.
Barack Obama recebeu um disparo de Fidel Castro ainda a bordo do Air Force One, antes de pisar em Santiago: os EUA pedirão desculpas por apoiar o golpe militar chileno de 1973, quando Pinochet derrubou Allende? A resposta de Obama foi a esperada: olhar o futuro e esquecer o passado.
Sucede que com o passar do tempo os papéis diplomáticos secretos vem a público e os anais da História passam a registrar que os americanos, através do Pentágono, CIA ou Departamento de Estado, modificaram o rumo da política interna de vários países: apoio ao golpe militar da Argentina (1976); envolvimento na Operação Condor (1976-80), cujo fim era capturar e executar opositores políticos na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia; assistência aos militares de El Salvador (1980); apoio financeiro, logístico e militar aos Contras, para derrubar o governo da Nicarágua (1981); bombardeio e invasão a Granada (1983). Foram ações terroristas para conter a “ameaça comunista” e evitar o surgimento de uma segunda Cuba no continente americano.
Às 19:00h do dia 14/04/1986, horário oficial americano, há quase 25 anos, ocorreu o primeiro bombardeio da história preparado para ser exibido no horário nobre da TV, a hora em que as três maiores redes de televisão dos EUA transmitem seus noticiários. O alvo foi a Líbia, ditada pelo mesmo Muammar Gaddafi, o supremo modelo de país terrorista segundo os EUA a época (Chomsky). A razão: Gaddafi assassinara dissidentes em março/1986 – tal como hoje – e, de quebra, teria promovido um atentado a discoteca La Belle, em Berlim, vitimando dois sargentos americanos e ferindo 230 pessoas, em 05/04/1986.
Em 1988 ruiu o Muro de Berlim, o capitalismo triunfou e o último prego posto no caixão do comunismo foi o esfacelamento da União Soviética. Permaneceu vivo o terrorismo e, desde o 11 de setembro de 2001, ele passou a ser islâmico. Em 2003 os EUA invadiram o Iraque, sem autorização da ONU, sob o pretexto de buscar e inutilizar armas de destruição em massa que poderiam ser fornecidas a terroristas, contudo, em 2004, o presidente Bush mudou o discurso e passou a sustentar que a ocupação visava implantar a democracia naquele país islâmico. Era o embrião do movimento Primavera Árabe.
A política externa americana percebeu que não poderia reeditar as Cruzadas – ofensivas militares por motivos religiosos – por isso usou os argumentos embusteiros de “guerra ao terror” e “implantação da democracia”, para maquiar sua pirataria a poços de petróleo e gás sob controle de imperadores opressores como Gaddafi. As mesmas táticas dos anos 70 a 80 foram aplicadas hoje como adubo para o florescimento da Primavera Árabe, ou seja, apoio financeiro, logístico e militar aos “populares”, para derrubar imperadores como Ben Ali (Tunísia), Hosni Mubarak (Egito), Adbullah Saleh (Iêmen), Assad (Síria), Khalifa (Bahrein), Bashir (Sudão), Abdallah (Arábia Saudita), Mohammed VI (Marrocos), dentre outros, curiosamente ao mesmo tempo. Tomara que o WikiLeaks publique a artimanha.
Voltando ao escrito no prefácio de Chomsky, de 1986: “Santo Agostinho conta a história de um pirata capturado por Alexandre, o Grande, que lhe perguntou: ‘Como você ousa molestar o mar?’ E como você ousa desafiar o mundo inteiro?’, replicou o pirata. ‘Pois por fazer isso apenas com um pequeno navio, sou chamado de ladrão; mas você, que o faz com uma marinha enorme, é chamado de imperador.’”
Ainda em homenagem a Chomsky: “A resposta do pirata foi ‘excelente’, observa Santo Agostinho. Ela ilustra com exatidão as relações atuais entre os Estados Unidos e vários outros atores no palco do terrorismo internacional [...] A história de Santo Agostinho amplia e ajuda a esclarecer o significado do conceito de terrorismo internacional”.
Conclusão: Barack Obama e Muammar Gaddafi se merecem. São imperadores, piratas e terroristas; Obama impera no Ocidente, Gaddafi na Líbia; Obama quer piratear os poços de petróleo e gás da Líbia; Gaddafi pirateia a liberdade do povo líbio. E para controlar o ouro negro, ambos são terroristas!
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